Quando o vento pára de soprar – Parte 2


Uma chuva amarga caía sobre a fazenda. Os animais estavam inquietos no celeiro, como se fosse uma previsão de que algo não muito bom estava pra acontecer. A escrava corria se molhando na chuva encharcando seu longo vestido e seus pés já descalços deslizavam melhor sobre a lama que cobria o chão. Em suas mãos um balde que derramava, mas que ela cuidava pra nao derramar tudo. Ela então entra no casarão da fazenda, e segue o barulho dos gritos. Ao chegar no quarto é repreendida pela parteira que reclamou de sua demora para buscar um balde de água.

A parteira pega um pano limpo, ensopa-o no balde d’água e por fim coloca sobre a barriga da mulher que está prestes a dar a luz, porém, ela continua a gritar bastante e reclamar das dores fortes que a assolam e percorrem todo o seu corpo. No corredor, o Senhor da fazenda anda de um lado pro outro sem conseguir parar de tanta preocupação e a cada grito vindo de dentro do quarto, uma nova onda de despero toma sua mente querendo saber o porquê de tal demora e tanta dor. A parteira pede para a irmã segurar firme a mão de Matylde, que está pra dar a luz e nunca tinha sentido tanta dor na vida.

Foi então que toda a gritaria cessou. O dono da fazendo, Coronel Anthony Paul, não sabia se ficava aliviado porque cessara toda aquela demonstração de dor ou preocupado porque não ouvira mais nenhum som vindo de dentro dos aposentos de sua esposa Matylde. Então ficou na porta aguardando uma noticia urgente porque não aguentava mais de tanta espera, quando sua atenção é chamada para a maçaneta que torce rapidamente e da porta sai a escrava correndo como se tivesse sida arremessada de dentro do quarto, mas o que Anthony não esperava era que ela chorava, o sinal que o pior tinha acontecido: Ou a mãe ou o bebê ou ambos não resistiram ao parto. Alertado várias vezes sobre o romance proibido com sua esposa, disseram que todas as ameaças poderiam cair sobre o bebê, porém o destino resolveu tirar a vida de Matylde. Matylde morrera e o bebê sobrevivera. Anthony não sabia o que mais desejava no momento. Se tivesse que escolher entre a vida de um dos dois não sabia, porque amava tanto Matylde que prometera que não teria mais vida sem ela, mal sabia ele que estava por acertar.

O bebê sobreviveu, e mesmo tendo a mãe morrido no parto, o pai colocou-lhe o nome de Anthony Paul II. Porém, o filho não substituiu a alegria que a mãe lhe proporcionava. Por mais que tentasse, o amor era algo que pra ele tinha morrido, e ele sentia que isso so nao tinha acontecido com seu corpo. Sua alma jazia junto à amada. Nada mais importava, as coisas se tornavam mais insossas e nem mais o Sol conseguia aquecer-lhe, porque seu mundo se tornou frio. Tal frieza foi refletindo em Anthony Paul II, que criado sem amor foi tornando-se rude, frio e calculista. No educandário tinha poucos amigos, dentre eles Ruppert Wilson. Ambos eram como reflexos contrários. Tudo o que Ruppert tinha de virtudes, Anthony tinha-as contrárias. Porém o único que o suportava era Ruppert.

Foram vários anos de amizade, separados por um casamento. Ruppert casou-se e afastou-se de Anthony, porém mal sabia ele que seus destinos nem estavam totalmente separados. Quando a filha de Ruppert nasceu, a esposa dele morreu no parto. Algo bastante familiar começou a refletir-se em sua mente, porém como forma de vingança por Ruppert, seu unico amigo, ter se afastado ele viu em um de seus momentos de bebedeira que ele estava apostando alto suas propriedades. Um lance de Poker foi suficiente para ganhar todas as propriedades de seu ex-amigo, inclusive o seu maior bem…Sua filha, que agora estava a caminho dentro de um trem. Aquela que por fatos vividos, era a pessoa que mais se assemelhava a ele. Ou talvez não.

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