Sobre quando meu mundo desaba

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Pra ler ao som de: There Is Something On Your Mind

Não sei se você já percebeu, mas meu mundo desaba religiosamente as terças e sextas-feiras por voltas das 18:40 que é quando, coincidentemente, você passa perto do meu trabalho e eu posso te ligar inventando alguma desculpa emergencial para te encontrar. Você faz um pequeno desvio na sua rota e em menos de 10 minutos meu telefone toca porque você já está na porta. Isso é o suficiente para meu coração querer chegar à calçada antes de mim e eu preciso contê-lo para você não perceber.

Nesses dias terminamos no parque da cidade, ouvindo blues e tomando sorvete dentro do seu carro. Enquanto você sussurra uma frase ou outra em inglês e finge arrumar meu cabelo, eu, sentada no seu colo, finjo que meu mal é tristeza e degusto, em uma lentidão proposital, cada pedacinho de chocolate do nosso sorvete de baunilha.

Você diz que descobriu o segredo para curar meus dias tristes, que sorvete é o que me faz bem. Eu fico rindo porque até a moça mal-humorada do drive-thur sabe que sorvete é só desculpa para eu ir parar no seu colo enquanto Big Jay McNeely dá o tom para o que futuramente irei chamar de lembranças. E só de imaginar que um dia nós seremos apenas isso, começo a desejar que haja mais terças e sextas na minha semana.

Inventar que só preciso de você para resolver minha vida e todos os problemas que finjo existir é mais fácil do que tentar entender tudo que sinto por você. É mais fácil dizer que essas mãos geladas são ‘só frio mesmo’, que tentar explicar como sua presença tem o dom de sacanear minhas atitudes, palavras e sensações.

Talvez por isso, eu sempre invento um problema novo e termino o dia no seu carro. Preocupado com o que está acontecendo você esquece-se de perguntar sobre gente e a gente vai indo da forma mais gostosa que já experimentei: com seu cheiro e sorvete de baunilha. Quem sabe qualquer dia desses, sem eu precisar usar nenhuma palavra, você se convença de que aquela história de ‘não se apegar’ era só coisa de quem tinha medo de acabar o expediente no seu colo, achando que este era o melhor jeito de terminar o dia. E ai talvez, esses dias virem passado sem que a gente deixe de ser presente.

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